Repórter especial
Embora, hoje, não seja o veículo predominante na cidade, o ônibus é o principal meio de transporte público urbano. Não é à toa que o setor movimenta, por ano, R$ 225 milhões - montante que representa 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), de Natal [IBGE/2009]. Por mês, o faturamento, por veículo, é de R$ 27.695,72, segundo estudos da para a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob).
Nas ruas, 696 veículos cobrem 73% da área do município, ou seja, 124 km2, com as atuais 95 linhas estabelecidas pela Semob. As sete empresas de transporte coletivo transportam, mensalmente, mais de 8,2 milhões de passageiros, alheios a uma questão fundamental para a melhoria do serviço: a licitação do transporte público. Esse é um processo que já deveria ter ocorrido desde junho de 2010, quando encerrou a validade das permissões às empresas de transporte público. O setor vive de permissões concedidas pela Prefeitura de Natal desde 1990.
Adriano AbreuAumento no número de veículos que circulam em Natal engarrafa trânsito e atinge transporte público
A negociação não é a primeira e não vai ser a última, segundo Augusto Maranhão. "Diante da descapitalização e da necessidade de renovação da frota, o que exigirá a licitação, as empresas estão se preparando para enfrentar a licitação, em condições de vencer", afirmou. Ele revelou que mais duas empresas, a Cidade do Natal, da qual é o maior acionista, e Conceição estão na mira de novos investidores.
"A minha empresa deve ser incorporada pelo grupo Agnelo Cândido, que já controla a Santa maria e a Reunidas; e a Conceição está sendo auditada pela Trampolim da Vitória. Estamos nos associando a grupos mais fortes", adiantou Augusto. O empresário desabafou: Isso é resultado de anos e anos de irresponsabilidade do setor público para com as empresas, ao não estabelecer reajustes reais. Nesses anos [onde predominaram as permissões] as empresas ficaram reféns do executivo municipal.
Uma das empresas, a Transportes Conceição ganhou ação na justiça, que pede R$ 30 milhões, por defasagem no valor tarifário, entre 200 e 2010. A Prefeitura do natal recorreu da decisão da Justiça. Augusto criticou a rotatividade na titularidade na Semob. "Não tem secretaria que possa ter planejamento com uma rotatividade tão alta de titulares". Elizabeth Thé, atual titular da pasta, é o terceiro nome que passa pela Semob. Antes estiveram na titularidade do órgão, Kelps Lima e Renato Fernandes da Silva.
Por não existir uma forma clara, estabelecida em contrato para a política tarifária - afirmou o secretário adjunto de Trânsito, Haroldo Maia - os empresários alegam sempre defasagem e quebra-quebra do sistema. "A insegurança que existe hoje dá margem para ele falar que está quebrado, que está falido, que não existe equilíbrio econômico financeiro. Mas nenhum deles quer entregar o negócio, deixar de operar".
Bate-papo
Jefferson Pedrosa » Secretário adjunto de transporte
Como melhorar o trânsito da cidade para que o transporte pública flua melhor?
Acho que transporte, aliás, que trânsito em qualquer cidade do mundo só se resolve com transporte de qualidade. E nós só podemos transformar, modificar e melhorar o trânsito de nossa cidade, além evidentemente dos projetos viários, de mobilidade, que estão sendo executados, nós só vamos ter condições de sanar o problema do trânsito quando tivemos rede de transporte adequada, bem planejada, bem projetada; quando tivemos nossos corredores de transporte exclusivo em funcionamento; quanto tivemos a nossa rede de transporte da região metropolitana integrada com a região urbana. Nesse momento, teremos a solução para o trânsito.
A licitação vai ajudar nisso?
Sem dúvida, a licitação vai ajudar e muito e, provavelmente vai trazer a resposta daquilo que tanto desejamos, que é a melhoria do nosso transporte na qualidade. O que eu quero dizer também é que é importantíssimo - e já começamos a pensar em nível de região metropolitana, e mesmo de transporte urbano, na questão do BRT. Ele é fundamental. As cidades que já estão implantando o BRT são cidades que já estão bem avançadas no transporte e que sem dúvida Natal, sem dúvida, tem que pensar nisso. É uma grande ferramenta de auxílio nos transportes públicos urbanos.
Há algum projeto em vista para 2014?
Não, ainda não tem nenhum projeto definido de BRT, já para as obras de mobilidade da Copa. Nós estamos em estudo, conhecendo o sistema de BRT, visitamos algumas cidades que implantaram o sistema,c omo belo Horizonte, e tem logrado muito êxito. Fora do país, Bogotá já há muito tempo tem e funciona perfeitamente bem. É um modelo de transporte adequado e rápido para o transporte público.
Como o senhor classifica o serviço de transporte público em Natal? É de qualidade?
Veja bem, a rede, que foi constituída ao longo desses últimos 30 anos, evidente que ela está superada. Por isso, que estamos fazendo a nossa licitação para trazer melhoria de transporte na nova rede que será determinada na licitação.
O valor da tarifa é compatível com o serviço oferecido?
Acho que a tarifa está equilibrada. Inclusive os técnicos que trabalharam envolvidos na última tarifa tiveram preocupação de avaliar essa planilha, de forma muito criteriosa. Pelas distâncias que nós temos, pelas condições da malha viária e de trafegabilidade de nossas vias, pela dificuldade de fluidez do trânsito, acho que é uma tarifa real, porque tudo isso complica, gerar custos.
Enquete
Jefferson Santos Andrade, comerciário, mora no Conjunto Vila Paraíso (Igapó)
"Hoje, o transporte é péssimo. Pelas condições do serviço que eles oferecem, o que se paga é muito caro. A demora é o pior. Pego normalmente a linha 67 ou a 70 [Praça Cívica e Ribeira], e sempre fico muito tempo esperando. Tem dias que espero 30 minutos".
Márcio Zanim, cozinheiro, morador do Soledade
"Eu pego dois coletivos para ir e para voltar do trabalho, que é na Via Costeira. Geralmente, a linha 84 ou 85, e depois a 56. Quando agente sai, às 22 horas, que vai retornar para casa, fica complicado. Tem que esperar o corujão, que passa de hora em hora, e quando quebra não tem ônibus. Ontem (quarta-feira, 4) fui pegar um às 23h30. Não tenho como dizer que é bom."
Janeide Tavares do Nascimento, auxiliar de escritório, moradora do Soledade
"Não está bom por conta da demora, dos horários que não são cumpridos, porque as ruas são todas esburacadas e porque o trânsito atrapalha muito as viagens. Os ônibus sempre estão lotados, tem assaltos dentro dos ônibus e ninguém toma providência ".
Eva Maria Pereira, dona de casa, moradora de Nova Parnamirim
"Pela manhã e no final da tarde, depois das 17 horas, são os piores horários. Vem sempre lotado, até porque aqui só tem duas linhas, um Praça e outro Alecrim. Tem vez, entre 18h e 19h, que demora mais de uma hora e quando passa vem lotado, nem para. Não como entrar mais ninguém. Acho que devia ter mais ônibus nas linhas e mais segurança".
Fonte: Tribuna do Norte
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